segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Jogue uma moeda ou consulte o I Ching, mas decida.

Disseram a Osho:

"Estou apaixonada por outro homem, no Canadá, e estou num conflito porque também me sinto muito apaixonada pelo meu marido."

Isso simplesmente quer dizer que você ainda quer que algum tipo de conflito e discórdia continue. Isso pode não ser amor por outro homem; isso pode ser apenas amor pelo conflito. Amamos os conflitos porque, com eles, nos sentimos poderosos.

Quando tudo está indo bem, a gente sente como se nada estivesse acontecendo. A gente sente como se a vida fosse vazia. Se a vida está realmente harmoniosa, nos sentimos vazios...nenhuma excitação, nenhum pontapé, nenhuma emoção.

Assim, as pessoas dizem que elas gostariam de uma vida bem pacífica, mas ninguém realmente deseja isso - do contrário, ninguém está criando qualquer barreira. Assim elas prosseguem falando sobre isso e continuam buscando por uma vida pacífica – e continuam criando perturbações. Então fique atenta, cuidado. Se você ama seu marido, não há nenhuma necessidade de outro homem.

De fato, essa divisão mostra algo dividido em você. Quando alguém ama duas pessoas, isso simplesmente mostra que em algum lugar existe uma divisão interior, você não é uma. Daí a insistência que se você puder amar um isso irá ajudar, porque isso lhe tornará uma.

Se você não puder amar seu marido totalmente, deixe-o. Eu irei tirá-lo da sua vida – mas então fique totalmente com o outro homem. Não há nada de errado nisso, mas fique com um para que você possa ser uma. Apenas pense – uma mulher amando muitas pessoas torna-se fragmentária. Essa é a miséria da prostituta.

Encontrei muitas prostitutas, e a meu ver é que não é verdade que a sociedade as forçou – existem alguns casos onde a sociedade as forçou – mas basicamente é a própria psique delas. Elas têm tantas pessoas dentro delas. Não uma mulher, porém muitas mulheres, uma multidão. E essa multidão não pode ser satisfeita por um homem.

E se você não pode ser satisfeita com um homem ou uma mulher, você não pode ficar satisfeita com mil. Porque se é difícil estar em harmonia com um, dois irá ser mais difícil, e três irá ser ainda mais difícil. Quanto mais, maior será a dificuldade de criar harmonia.

Portanto se você estiver realmente interessada em paz, harmonia, amor, então opte por um... mesmo que seja difícil no início. É difícil por causa do hábito. Isso sempre dá um bom sentimento de ter dois amantes porque assim você pode criar um conflito entre eles; um triângulo é criado. A mulher fica tremendamente feliz. Ela pode estar vivendo na miséria porque essas duas pessoas estão em constante conflito, mas ela se sente bem em ser desejada por dois homens.

Isso não irá ajudar. Isso lhe dará uma excitação febril, mas essa febre vai ser destrutiva para seu ser. Não vou sugerir isso. Então escolha. A decisão é boa porque lhe torna decidida. Não se demore porque isso também é uma decisão... uma decisão de permanecer indecisa. Escolha.

Se você acha que você deseja mais o outro homem, pense, pondere sobre isso. Mas se você quiser ficar com seu marido, então deixe o outro homem. É como se você estivesse fazendo amor com seu marido e o outro homem está sempre entre vocês. Isso irá acontecer; vocês não sentirão qualquer privacidade. Ele estará segurando sua mão e haverá uma terceira mão entre vocês e a intimidade não irá florescer. A gente precisa decidir.

A vida é uma decisão contínua de momento a momento. Você não pode ir por todos os caminhos. Se você quer vir à Índia, você tem que deixar o Canadá. Se você quer viver no Canadá, você precisa deixar a Índia. Você não pode viver em todos os lugares. Não podemos nos espalhar por toda a terra. Iremos perder nosso ser totalmente. Temos que permanecer centrados.

Portanto, não somente com o amor, em relação a tudo: seja decisiva. Eu sei, eu compreendo que isso é duro. Às vezes é somente meio a meio. Parece difícil decidir, mas mesmo assim a gente precisa decidir. Jogue uma moeda ou consulte o I Ching, mas decida.

Permanecer numa indecisão por muito tempo é muito perigoso. Isso lhe dá uma qualidade de ser indecisa. E se a pessoa aprende esse truque, então a pessoa desperdiça toda sua vida. Então nas pequenas coisas a pessoa começa a ficar indecisa também. A pessoa retarda, retarda... hesita. E também se houver muito retardamento e hesitação, será muito difícil dar o salto final para Deus, para o divino.

O amor é um aprendizado... a primeira lição da religião. Ele lhe ajuda a decidir. E se você puder decidir, na própria decisão algo dentro de você se cristaliza. Você verá isso. Se não você irá ficar bifurcada, você se tornará uma esquizofrênica: uma parte indo nessa direção e outra parte indo naquela direção. Uma casa dividida está sempre em perigo. Pode cair a qualquer momento.

Então você decide. Não digo para você decidir pelo seu marido – não estou dizendo isso – mas decida. Se você realmente quer ser feliz, seja decisiva. É preciso coragem para decidir, quase a coragem de um jogador, mas a vida é assim mesmo. Nada é barato na vida, pelo menos não o amor. Ele exige. E essa é a beleza dele – que ele exige. Essa própria exigência lhe dá uma sintonia, um espírito... integridade, individualidade.

OSHO

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Vou-me Embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Manuel Bandeira

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

DROGAS


Isso não é algo novo; é tão antigo quanto o ser humano. Nunca houve uma época em que o ser humano não estivesse em busca da fuga. O livro mais antigo do mundo é o Rigveda, e ele está repleto de comentários sobre o uso de uma droga, soma.

Desde aquela época todas as religiões tentaram fazer com que as pessoas não se envolvessem com drogas, e todos os governos têm sido contrários às drogas. Mesmo assim, elas provaram ser mais poderosas do que os governos e as religiões, pois ninguém investigou a psicologia do usuário de drogas. O ser humano está infeliz, vive ansioso, angustiado, frustrado, e parece não haver escapatória, exceto pelas drogas.

A única maneira de prevenir o uso das drogas será tornar as pessoas alegres, felizes e plenas.

Também sou contra as drogas, pela simples razão de que elas o ajudam a se esquecer por um tempo de sua infelicidade. Elas não o preparam para lutar contra a infelicidade e o sofrimento; pelo contrário, elas o enfraquecem.

Mas as razões das religiões e dos governos serem contrários às drogas e a minha razão de ser contrário são totalmente diferentes. Eles querem que as pessoas permaneçam infelizes e frustradas, pois os que sofrem nunca são rebeldes; seus seres são torturados e estão se despedaçando e não podem conceber uma sociedade melhor, uma cultura melhor, um ser humano melhor.

Por causa dessa infelicidade. qualquer um pode se tornar uma vítima fácil dos sacerdotes, porque esses o consolarão e dirão: "Bem-aventurados são os pobres, bem-aventurados são os mansos, bem-aventurados são os que sofrem, pois eles herdarão o reino de Deus." A humanidade sofredora também está nas mãos dos políticos, porque a humanidade sofredora precisa de alguma esperança, a esperança de haver uma sociedade sem divisão de classes em algum momento no futuro, a esperança de haver urna sociedade onde não haja pobreza, nenhuma fome, nenhuma aflição.

Em resumo, se tiverem uma utopia no horizonte, as pessoas podem dar um jeito e serem pacientes com os seus sofrimentos. E você deve registrar o significado da palavra utopia. Ela significa aquilo que nunca acontece; é como o horizonte, ele está tão próximo que você acha que pode correr e encontrar o lugar onde a terra e o céu se encontram. Mas você pode continuar a correr por toda a vida e nunca encontra o lugar, porque não há tal lugar. Trata-se de uma ilusão.

O político e o sacerdote vivem das promessas. Nos últimos dez mil anos ninguém entregou o que disse que entregaria. A razão de serem contra as drogas é que elas destroem todo o seu negócio. Se as pessoas começarem a tomar ópio, haxixe ou LSD, não se importarão com o comunismo, com o que acontecerá amanhã, com a vida após a morte, com Deus ou o paraíso. Elas ficarão preenchidas no momento.

Minhas razões são diferentes. Também sou contrário às drogas, não porque elas cortam as raízes das religiões e dos políticos, mas porque destroem seu crescimento interior em direção à espiritualidade. Elas o impedem de atingir a terra prometida; você fica perambulando em torno de alucinações, enquanto é capaz de atingir o real. Elas lhe dão um brinquedo.

Mas já que as drogas não vão desaparecer, gostaria que todos os governos, por meio de laboratórios científicos, purificassem as drogas para torná-las mais saudáveis e sem nenhum efeito colateral, o que é possível agora. Podemos criar uma droga como aquela que Aldous Huxley,em memória ao Rigveda, chamou de "soma", uma droga que não tenha nenhum efeito negativo, que não vicie, que seja uma alegria, uma felicidade, uma dança, uma canção.

Se não podemos tomar possível que cada um se tome um Gautama Buda, não temos o direito de impedir que as pessoas tenham pelo menos vislumbres ilusórios do estado estético que Gautama Buda deve ter tido.

Talvez essas pequenas experiências levem as pessoas a investigarem mais. Mais cedo ou mais tarde elas ficarão saturadas da droga, pois ela repetirá constantemente a mesma cena. Não importa quão bela seja a cena, a repetição a deixará entediante.

Assim, primeiro purifique a droga de todos os efeitos nocivos e, em segundo lugar, deixe que ela seja desfrutada por quem quiser desfrutá-la. As pessoas ficarão entediadas... E então o único caminho será o de procurar algum método de meditação para encontrar o estado de plenitude suprema.

A questão está basicamente relacionada com os jovens. O abismo entre gerações é o fenômeno mais recente no mundo; ele nunca aconteceu dessa maneira antes. No passado, os filhos de seis ou sete anos de idade começavam a aprender com os pais a usar as mãos e a mente em sua profissão tradicional.

Quando eles chegavam aos catorze anos de idade, já eram artesãos, trabalhadores... e se casavam e tinham responsabilidades. Quando eles tinham vinte ou vinte e quatro anos de idade, tinham seus próprios filhos. Dessa maneira, nunca havia um abismo entre as gerações. Cada geração se sobrepunha à outra.

Pela primeira vez na história da humanidade apareceu o abismo entre as gerações. Ele é de uma importância imensa. Pela primeira vez, até a idade de vinte e cinco ou vinte e seis anos de idade, quando a pessoa sai da universidade, ela não tem nenhuma responsabilidade, nenhum filho, nenhuma preocupação, e tem o mundo inteiro diante de si para sonhar. Como melhorá-lo, como deixá-lo mais rico, como criar uma raça de gênios.

Estes são os anos, entre catorze e vinte e quatro, em que a pessoa é uma sonhadora, pois a sexualidade está amadurecendo e, com ela, os sonhos amadurecem. A sexualidade do jovem é reprimida pelas escolas e colégios, então toda a sua energia fica disponível para sonhar. Ele se torna um comunista, um socialista ou um membro dessa ou daquela sociedade.

E essa é a época em que ele começa a se sentir frustrado com as maneiras como o mundo funciona. A burocracia, o governo, os políticos, a sociedade, a religião... não parece que ele será capaz de tornar seus sonhos uma realidade. Ele chega em casa da universidade cheio de ideias, e cada ideia será esmagada pela sociedade.

Logo ele se esquece do novo ser humano e da nova era, pois nem mesmo pode encontrar emprego, nem mesmo pode se sustentar. Como ele pode pensar em uma sociedade sem classes, onde não haverá rico nem pobre?

É nesse momento que ele se volta para as drogas. Elas lhe dão um alívio temporário, mas logo ele perceberá que terá de aumentar a dose. E, como elas são agora, são destrutivas para o corpo e para o cérebro; logo a pessoa ficará absolutamente sem esperanças. Ela não pode viver sem as drogas, e com elas não há espaço na vida para ela.

Mas não digo que os jovens são responsáveis por isso, e puni-los e prendê-los é uma completa estupidez. Eles não são criminosos, mas vítimas.

Minha ideia é que a educação deveria ser dividida em duas partes: uma intelectual e uma prática. Desde o começo a criança entra na escola não apenas para aprender o que existe, mas também para aprender a criar algo, alguma arte, alguma habilidade.

Metade do tempo deveria ser dada às suas atividades intelectuais, e a outra metade às necessidades reais da vida, o que manterá um equilíbrio. E, quando a pessoa sair da universidade, não será utópica e não precisará ser empregada pelos outros. Ela será capaz de criar coisas por conta própria.

E para os alunos que sentem qualquer tipo de frustração, desde o começo as coisas deveriam ser mudadas. Se eles estão frustrados, talvez não estejam estudando as coisas certas, talvez o aluno queira ser carpinteiro, e pessoas estão fazendo dele um médico, ou queira ser jardineiro, e pessoas estão fazendo dele um engenheiro.

Será necessária uma grande compreensão psicológica, de tal modo que cada criança seja enviada para a direção em que ela aprenda algo. E em cada escola, em cada colégio, em cada universidade, pelo menos uma hora de meditação para todos deveria ser obrigatória, para que, sempre que alguém se sentir frustrado ou deprimido, tenha um espaço dentro de si mesmo em que possa entrar e imediatamente se livrar de toda a frustração e depressão. Ele não precisa se voltar para as drogas. A meditação é a resposta.

Mas, em vez de fazerem todas essas coisas, as pessoas no poder ficam fazendo coisas idiotas, como proibição, punição... Elas sabem que por dez mil anos as drogas foram proibidas e o sucesso não foi obtido. Se o álcool for proibido, mais pessoas se tornarão alcoólatras, e um tipo perigoso de álcool estará disponível. Milhares de pessoas morreriam de envenenamento, e quem seria responsável?

Jovens estão sendo punidos com anos de prisão sem nem mesmo haver o entendimento de que, se uma pessoa toma uma droga ou se vicia na droga, ela precisa de tratamento e não de punição. Ela deveria ser enviada a um lugar em que cuidados possam ser dados a ela, onde possa aprender meditação e, lentamente, possa ser afastada das drogas e direcionada a algo melhor.

Em vez disso, ela é forçada a entrar em prisões, permanecendo presa durante anos! As pessoas absolutamente não valorizam a vida humana. Se um jovem de vinte anos de idade for preso por dez anos, será desperdiçado seu tempo mais precioso, e sem qualquer benefício, porque na prisão qualquer droga está mais facilmente disponível do que em qualquer outro lugar.

Os prisioneiros são usuários de drogas altamente habilidosos e se tomam mestres dos amadores. Após dez anos, a pessoa sairá perfeitamente treinada. As prisões ensinam: qualquer coisa que você faça não está errada, a menos que você seja pego; apenas não seja pego. E há mestres que podem ensinar como não ser pego de novo. Assim, toda essa coisa é absolutamente absurda.

Também sou contrário às drogas, mas de uma maneira totalmente diferente. Acho que você pode entender o ponto. [OSHO]