quarta-feira, 10 de agosto de 2011

DROGAS


Isso não é algo novo; é tão antigo quanto o ser humano. Nunca houve uma época em que o ser humano não estivesse em busca da fuga. O livro mais antigo do mundo é o Rigveda, e ele está repleto de comentários sobre o uso de uma droga, soma.

Desde aquela época todas as religiões tentaram fazer com que as pessoas não se envolvessem com drogas, e todos os governos têm sido contrários às drogas. Mesmo assim, elas provaram ser mais poderosas do que os governos e as religiões, pois ninguém investigou a psicologia do usuário de drogas. O ser humano está infeliz, vive ansioso, angustiado, frustrado, e parece não haver escapatória, exceto pelas drogas.

A única maneira de prevenir o uso das drogas será tornar as pessoas alegres, felizes e plenas.

Também sou contra as drogas, pela simples razão de que elas o ajudam a se esquecer por um tempo de sua infelicidade. Elas não o preparam para lutar contra a infelicidade e o sofrimento; pelo contrário, elas o enfraquecem.

Mas as razões das religiões e dos governos serem contrários às drogas e a minha razão de ser contrário são totalmente diferentes. Eles querem que as pessoas permaneçam infelizes e frustradas, pois os que sofrem nunca são rebeldes; seus seres são torturados e estão se despedaçando e não podem conceber uma sociedade melhor, uma cultura melhor, um ser humano melhor.

Por causa dessa infelicidade. qualquer um pode se tornar uma vítima fácil dos sacerdotes, porque esses o consolarão e dirão: "Bem-aventurados são os pobres, bem-aventurados são os mansos, bem-aventurados são os que sofrem, pois eles herdarão o reino de Deus." A humanidade sofredora também está nas mãos dos políticos, porque a humanidade sofredora precisa de alguma esperança, a esperança de haver uma sociedade sem divisão de classes em algum momento no futuro, a esperança de haver urna sociedade onde não haja pobreza, nenhuma fome, nenhuma aflição.

Em resumo, se tiverem uma utopia no horizonte, as pessoas podem dar um jeito e serem pacientes com os seus sofrimentos. E você deve registrar o significado da palavra utopia. Ela significa aquilo que nunca acontece; é como o horizonte, ele está tão próximo que você acha que pode correr e encontrar o lugar onde a terra e o céu se encontram. Mas você pode continuar a correr por toda a vida e nunca encontra o lugar, porque não há tal lugar. Trata-se de uma ilusão.

O político e o sacerdote vivem das promessas. Nos últimos dez mil anos ninguém entregou o que disse que entregaria. A razão de serem contra as drogas é que elas destroem todo o seu negócio. Se as pessoas começarem a tomar ópio, haxixe ou LSD, não se importarão com o comunismo, com o que acontecerá amanhã, com a vida após a morte, com Deus ou o paraíso. Elas ficarão preenchidas no momento.

Minhas razões são diferentes. Também sou contrário às drogas, não porque elas cortam as raízes das religiões e dos políticos, mas porque destroem seu crescimento interior em direção à espiritualidade. Elas o impedem de atingir a terra prometida; você fica perambulando em torno de alucinações, enquanto é capaz de atingir o real. Elas lhe dão um brinquedo.

Mas já que as drogas não vão desaparecer, gostaria que todos os governos, por meio de laboratórios científicos, purificassem as drogas para torná-las mais saudáveis e sem nenhum efeito colateral, o que é possível agora. Podemos criar uma droga como aquela que Aldous Huxley,em memória ao Rigveda, chamou de "soma", uma droga que não tenha nenhum efeito negativo, que não vicie, que seja uma alegria, uma felicidade, uma dança, uma canção.

Se não podemos tomar possível que cada um se tome um Gautama Buda, não temos o direito de impedir que as pessoas tenham pelo menos vislumbres ilusórios do estado estético que Gautama Buda deve ter tido.

Talvez essas pequenas experiências levem as pessoas a investigarem mais. Mais cedo ou mais tarde elas ficarão saturadas da droga, pois ela repetirá constantemente a mesma cena. Não importa quão bela seja a cena, a repetição a deixará entediante.

Assim, primeiro purifique a droga de todos os efeitos nocivos e, em segundo lugar, deixe que ela seja desfrutada por quem quiser desfrutá-la. As pessoas ficarão entediadas... E então o único caminho será o de procurar algum método de meditação para encontrar o estado de plenitude suprema.

A questão está basicamente relacionada com os jovens. O abismo entre gerações é o fenômeno mais recente no mundo; ele nunca aconteceu dessa maneira antes. No passado, os filhos de seis ou sete anos de idade começavam a aprender com os pais a usar as mãos e a mente em sua profissão tradicional.

Quando eles chegavam aos catorze anos de idade, já eram artesãos, trabalhadores... e se casavam e tinham responsabilidades. Quando eles tinham vinte ou vinte e quatro anos de idade, tinham seus próprios filhos. Dessa maneira, nunca havia um abismo entre as gerações. Cada geração se sobrepunha à outra.

Pela primeira vez na história da humanidade apareceu o abismo entre as gerações. Ele é de uma importância imensa. Pela primeira vez, até a idade de vinte e cinco ou vinte e seis anos de idade, quando a pessoa sai da universidade, ela não tem nenhuma responsabilidade, nenhum filho, nenhuma preocupação, e tem o mundo inteiro diante de si para sonhar. Como melhorá-lo, como deixá-lo mais rico, como criar uma raça de gênios.

Estes são os anos, entre catorze e vinte e quatro, em que a pessoa é uma sonhadora, pois a sexualidade está amadurecendo e, com ela, os sonhos amadurecem. A sexualidade do jovem é reprimida pelas escolas e colégios, então toda a sua energia fica disponível para sonhar. Ele se torna um comunista, um socialista ou um membro dessa ou daquela sociedade.

E essa é a época em que ele começa a se sentir frustrado com as maneiras como o mundo funciona. A burocracia, o governo, os políticos, a sociedade, a religião... não parece que ele será capaz de tornar seus sonhos uma realidade. Ele chega em casa da universidade cheio de ideias, e cada ideia será esmagada pela sociedade.

Logo ele se esquece do novo ser humano e da nova era, pois nem mesmo pode encontrar emprego, nem mesmo pode se sustentar. Como ele pode pensar em uma sociedade sem classes, onde não haverá rico nem pobre?

É nesse momento que ele se volta para as drogas. Elas lhe dão um alívio temporário, mas logo ele perceberá que terá de aumentar a dose. E, como elas são agora, são destrutivas para o corpo e para o cérebro; logo a pessoa ficará absolutamente sem esperanças. Ela não pode viver sem as drogas, e com elas não há espaço na vida para ela.

Mas não digo que os jovens são responsáveis por isso, e puni-los e prendê-los é uma completa estupidez. Eles não são criminosos, mas vítimas.

Minha ideia é que a educação deveria ser dividida em duas partes: uma intelectual e uma prática. Desde o começo a criança entra na escola não apenas para aprender o que existe, mas também para aprender a criar algo, alguma arte, alguma habilidade.

Metade do tempo deveria ser dada às suas atividades intelectuais, e a outra metade às necessidades reais da vida, o que manterá um equilíbrio. E, quando a pessoa sair da universidade, não será utópica e não precisará ser empregada pelos outros. Ela será capaz de criar coisas por conta própria.

E para os alunos que sentem qualquer tipo de frustração, desde o começo as coisas deveriam ser mudadas. Se eles estão frustrados, talvez não estejam estudando as coisas certas, talvez o aluno queira ser carpinteiro, e pessoas estão fazendo dele um médico, ou queira ser jardineiro, e pessoas estão fazendo dele um engenheiro.

Será necessária uma grande compreensão psicológica, de tal modo que cada criança seja enviada para a direção em que ela aprenda algo. E em cada escola, em cada colégio, em cada universidade, pelo menos uma hora de meditação para todos deveria ser obrigatória, para que, sempre que alguém se sentir frustrado ou deprimido, tenha um espaço dentro de si mesmo em que possa entrar e imediatamente se livrar de toda a frustração e depressão. Ele não precisa se voltar para as drogas. A meditação é a resposta.

Mas, em vez de fazerem todas essas coisas, as pessoas no poder ficam fazendo coisas idiotas, como proibição, punição... Elas sabem que por dez mil anos as drogas foram proibidas e o sucesso não foi obtido. Se o álcool for proibido, mais pessoas se tornarão alcoólatras, e um tipo perigoso de álcool estará disponível. Milhares de pessoas morreriam de envenenamento, e quem seria responsável?

Jovens estão sendo punidos com anos de prisão sem nem mesmo haver o entendimento de que, se uma pessoa toma uma droga ou se vicia na droga, ela precisa de tratamento e não de punição. Ela deveria ser enviada a um lugar em que cuidados possam ser dados a ela, onde possa aprender meditação e, lentamente, possa ser afastada das drogas e direcionada a algo melhor.

Em vez disso, ela é forçada a entrar em prisões, permanecendo presa durante anos! As pessoas absolutamente não valorizam a vida humana. Se um jovem de vinte anos de idade for preso por dez anos, será desperdiçado seu tempo mais precioso, e sem qualquer benefício, porque na prisão qualquer droga está mais facilmente disponível do que em qualquer outro lugar.

Os prisioneiros são usuários de drogas altamente habilidosos e se tomam mestres dos amadores. Após dez anos, a pessoa sairá perfeitamente treinada. As prisões ensinam: qualquer coisa que você faça não está errada, a menos que você seja pego; apenas não seja pego. E há mestres que podem ensinar como não ser pego de novo. Assim, toda essa coisa é absolutamente absurda.

Também sou contrário às drogas, mas de uma maneira totalmente diferente. Acho que você pode entender o ponto. [OSHO]

Um comentário:

  1. Bela Anabelle; AMEEEEEIIIIII. Tdo bem exposto. Parabens. Bjos.:***

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